terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Linho, um costume... uma tradição!

Utilizado para uso litúrgico, caseiro, medicinal ou na farmacopeia o linho esteve e está - e estará, com certeza – presente no dia-a-dia de vários limianos. Por isso, esta semana, decidimos colocar algumas questões a Maria Correia, uma limiana que se relaciona, quer no campo profissional como no campo pessoal, com este produto.


1. De que modo é que o linho esteve presente na sua vida?
A minha avó paterna tecia lençóis e toalhas de linho no tear, uma vez que ela era tecedeira. Existiam também vários utensílios de trabalhar o linho na casa dos meus avós, tanto paternos como maternos. Lembro me ainda de uma tia minha semear linho e trabalhar o linho.
Em solteira, minha mãe deu me um lençol de linho para eu fazer uma toalha com linho e croché. E, quando casei, a minha avó materna ofereceu me também um lençol de linho que ela tinha e que eu gostava muito. Para mim este lençol tem muito mais valor sentimental do que monetário.


2. Em que aspectos é que o linho faz parte do seu dia-a-dia?
Para além de comercializar linhos antigos, também gosto de os trabalhar. Em especial, gosto de fazer toalhas com bainhas abertas e bordadas com monogramas ou outras coisas a ponto de cruz em vermelho. Uso-o também para fazer lenços de namorados.













3. Segundo o seu ponto de vista, quais as vantagens de trabalhar com linho? E as desvantagens?
Além de ser um produto manual e totalmente ecológico, faz parte das nossas tradições. É confortável e saudável, essencialmente em almofadas ou travesseiros. Por ter várias texturas e ser de longa duração, pode ser utilizado em tudo o que nós quisermos, por exemplo, em vestuário.
No entanto, não deve ser lavado com detergentes modernos, pois perde a cor natural e deteriora-o com mais facilidade.



4. Alguns dos seus trabalhos, nomeadamente os lenços de namorados, no ano passado, durante as Feiras Novas, estiveram na montra de algumas lojas do centro da Vila. O que pensa relativamente a esse aspecto?
As montras das lojas comerciais, em especial na altura das Feiras Novas, são um óptimo veículo de divulgação cultural do que se faz em Ponte de Lima a nível de artesanato ou preservação de costumes antigos. Daí eu ter aceitado quando uma amiga minha, que conhecia o meu trabalho, me pediu para emprestar alguns dos meus lenços de namorados, para a decoração da sua própria montra e de outras, de pessoas amigas. Várias pessoas que os viram expostos nas montras, perguntaram de quem eram e deram-me os parabéns pelo trabalho. Fiquei muito satisfeita do meu trabalho ser reconhecido.




5. Pensa que as Feiras Novas são uma maneira de preservar as tradições, neste caso, no cultivo e utilização do linho?
Sim, em especial, no cortejo etnográfico. É uma forma dos mais novos, assim como pessoas que pouco (ou nunca) contactaram com o linho, terem conhecimento das etapas de transformação do linho desde a sementeira até ao produto final e, assim, poderem valorizá-lo conforme ele merece.



Nota: as fotografias apresentadas são de trabalhos da entrevistada.

1 comentário:

  1. Mais bonito do que o próprio linho em si, é a tradição, que infelizmente se foi perdendo, do seu cultivo e colheita. Passando de pais para filhos, mais do que toalhas e lençois herdavam-se sentimentos. A tradição foi-se perdendo por entre as linhas dos teares que, infelizmente, cada vez mais são peças de museu.
    Bom artigo.

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